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Parte 8 - Mais de 90 anos de preservação arquitetônica

  • Foto do escritor: Jornalismo
    Jornalismo
  • 22 de nov. de 2019
  • 2 min de leitura


Foto: Arquivo Histórico


Por Tamara Sedrez


Desde o início da minha existência, em 1924, até os dias atuais, em 2019, muita coisa mudou. Eu vi enchentes devastarem a cidade que chamo de lar. Enquanto a água tomava conta de outros prédios parecidos comigo, pessoas ficavam sem teto. Presenciei conflitos, novidades, ruínas e recuperações. Esta cidade tem muito a contar, e eu também. As rachaduras nas minhas paredes são uma pequena demonstração de tudo o que eu passei.

Enquanto estruturas caíam e outras eram construídas, eu estive aqui. A cidade cresceu, as cores mudaram e tudo está mais moderno, mas eu continuo, intacto, ocupando o meu espaço. É claro, passei por restaurações, como qualquer objeto ou ser que tem vida. Afinal, todos somos feitos para sermos transformados. Eu conservo o estilo arquitetônico brasileiro dos anos 20 e tanto o meu exterior quanto o meu interior tem elementos que comprovam isso, mas com a pressa na qual os humanos vivem imersos, tornou-se raro o momento em que alguém dirige um olhar atento a mim.

Os arcos das minhas janelas já não são tão vistos nos imóveis contemporâneos. Meus detalhes foram, aos poucos, sendo deixados para trás. Já não se vêem mais paredes com detalhes como os que eu possuo e a tinta que descasca da minha estrutura tem marcas de que muita coisa foi vivida aqui.

Existem pessoas, até mesmo arquitetos, que não prezam por prédios históricos como eu. Alguns pedem por demolição pois querem dar lugar a algo novo. No entanto, ainda há quem goste de um casarão velho. A arquitetura evoluiu e criou novas possibilidades, mas ainda tem o mesmo objetivo: planejar e erguer estruturas que sejam capazes de ganhar vida com suas formas e cores; transformar linhas desenhadas no papel em alicerce para a vida, para que dentro de um espaço aconchegante, possa permanecer a cumplicidade e a proteção, a mágoa e a inquietação, a insanidade e a extravagância. Eu ainda estou aqui para isso. Posso ser consertado caso minhas rachaduras ofereçam riscos, mas, aparentemente, não tenho sido notável, mesmo que minha preservação tenha mais de 90 anos.

Eu fui construído antes mesmo da nova e atual Prefeitura de Blumenau, aquele prédio lindo em estilo enxaimel que os blumenauenses e os turistas tanto amam. Ela foi inaugurada em 1982, e 58 anos antes, eu já existia. Se eu possuísse o poder de falar, com certeza eu gritaria aos quatro ventos “Olhem para mim! Eu eu estou aqui! Eu conservo a história desta cidade. Muita coisa aconteceu sob o meu teto”. Mas, infelizmente, nada disso chegará ao conhecimento da comunidade por meio de palavras pronunciadas por mim, eu só posso esperar que alguém faça isso em meu nome.

O estilo minimalista e moderno de vocês é incrível, mas jamais vai me deixar para trás. Como disse o mestre Oscar Niemeyer, “A vida pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais justo, ela será mais simples”. Eu espero que um dia o mundo alcance a justiça merecida, para que a minha simplicidade seja mais vista.

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