Parte 2 - Treinar hoje, amanhã e depois - Uma cultura física na cidade
- Jornalismo

- 22 de nov. de 2019
- 3 min de leitura

Foto: Acervo Histórico
Por Lucas Lemes Gavião
***Os nomes e personagens tratados nesta crônica são fictícios***
A cidade crescria em uma velocidade difícil até mesmo de acompanhar. Blumenau era mato. E do mato, aos poucos, emergiam belas obras da arquitetura germânica. Pelo menos, era o que meu pai dizia em todo lugar por onde a gente passava. Eu não conheci a cidade que veio do mato, mas todos os dias acompanho a ascensão deste lugar.
Eram umas cinco horas da manhã e eu tinha acabado de me levantar. Desço as escadas e cumprimento meus pais. Seu Willy já estava pronto para a caminhada até a sede da Turverein, e já se aquecera por quinze minutos. Desde pequeno foi atleta. É membro de lá há pelo menos 20 anos e um grande competidor que sempre acreditou muito no papel da associação.
Eu conheço o Seu Willy como pai. Um pai que sempre fez muito bem o seu papel e sempre teve amor pela sua família e, além disso, integrava a família à sua outra paixão: a Associação Ginástica. A manhã de hoje é um grande exemplo disso.
Sempre tive bastante força e um bom condicionamento físico graças a meu pai. Treino desde os dez anos de idade por incentivo, ou até uma quase exigência, dele. Sinto que muita coisa muda com o passar dos anos. Outras nem tanto.
Blumenau ainda é uma criança. Se eu sou jovem aos 21, imagine uma cidade aos 75. Porém, velhos hábitos ainda têm força. Ainda bem. É por causa de um destes hábitos que hoje sou o que sou.
O lema era “treinar hoje, amanhã e depois”. A ideia ia muito além da competição. Precisamos nos manter fortes e nos sentir bem e dispostos, até porque nunca se sabe o dia de amanhã. Quando meu pai era apenas um garoto, muitos jovens padeciam com doenças que não conhecíamos direito. Outros simplesmente não se cuidavam um mínimo. Era fatal. Isso mudou por conta dos exercícios e da época dos meus avós, que passaram isso ao meu pai e, consequentemente, para mim.
Seu Willy conta que Blumenau seguiu a tendência europeia. Meu pai não chegou a morar lá. Ele é brasileiro. Teuto-brasileiro, assim como eu. Mas meus avós lhe contaram tudo sobre as tendências dos novos tempos.
Todos eram incentivados a treinar e a praticar exercícios para se manterem saudáveis, afinal, eram tempos de mudança e de grandes avanços. Indústrias, fábricas e novas empresas. É… o avanço chegou. E com ele, novas sociedades. Meu pai conta que, em parte, a Turnverein existe quase que como um agente que promove a saúde pública, motivando as pessoas a se tornarem membros e a praticarem exercícios. Tudo começou com o Schützenrein Blumenau, o clube de caça e tiro. Depois, as coisas foram tomando outras proporções e outros clubes e associações foram surgindo. A população cresceu, precisa trabalhar e não pode ficar doente.
Honestamente, nunca liguei muito para isso. Eu gosto da ginástica e me sinto bem com minha práticas. Porém, hoje pela manhã, vendo meu pai se preparado para sair de casa com aquele brilho no olhar, toda essa história veio a minha mente novamente. Quem sabe, se não fosse por tudo isso, eu talvez nem seria atleta. Meu pai e eu chegamos antes de começarem os treinos. Este final de semana tem competição. Tenho mais três dias para me preparar. Acho que vou adotar o velho lema do meu pai: “treinar hoje, amanhã e depois”.
Referências:
FURTADO, Heitor Luiz; QUITZAU, Evelise Amgarten; SILVA, Marcelo Moraes e. Blumenau e seus imigrantes: apontamentos acerca da emergência de uma cultura física (1850-1899). Movimento, Porto Alegre, v. 24, n. 2, abr./jun. 2018. Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/81849/48692>





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