O que aprendi com o filme Os Incompreendidos
- Jornalismo
- 7 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Alan Carlos Gonçalves
Os incompreendidos, como foi chamado no Brasil, é um filme dirigido pelo francês François Truffaut e lançado no ano de 1959. O título original - Les quatre cents coups – remete à expressão “pintar o sete”. O filme é praticamente uma obra autobiográfica, em que Truffaut mostra um pouco do que teria sido a sua infância, seus costumes, seu dia a dia na escola, os problemas com a convivência familiar a até alguns pequenos delitos que desencadeiam uma série de aventuras. Esse foi o primeiro trabalho dirigindo um longa. Antes Truffaut trabalhava para a revista Cahiers Du Cinéma como crítico.
O protagonista do filme é um garoto de 14 anos chamado Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud). Antoine não é necessariamente um garoto problema como também não é o filho e aluno exemplar. No decorrer da trama ele se mostra um garoto como muitos de nós éramos nessa idade, cheio de ambições, sonhos, questionamentos e curiosidades. Contudo ele demonstra se sentir incomodado com as regras da sociedade, não se adapta muito à convivência na escola, suas notas vão diminuindo, deixando-o frustado. Somado a isso, em sua casa o desafio de viver com seus pais – interpretados por Claire Maurier e Albert Rémy – em meio a brigas e carinhos vai tornando-o cada vez mais rebelde.
Antoine começa a faltar algumas aulas para perambular pela cidade sozinho ou com alguns amigos, responder ao professor autoritário, o que o leva a receber notas cada vez piores. Sua convivência com os pais se agrava cada vez mais, especialmente depois que ele, ao cabular aula, flagra sua mãe traindo seu pai. Os dois se veem e acaba se criando um intenso clima em que os dois precisam esconder seus segredos.
O longa conta com as montagens de cena de Marie-Josèphe Yoyotte, que soube transitar com maestria entre as cenas de aventura e emoção das travessuras de Antoine com cenas dramáticas e contemplativas reflexivas, onde o garoto está deitado na escuridão de seu quarto ouvindo a discussão dos pais e outras em que ele vaga à noite pela cidade em busca de algo para comer e beber.
A trilha sonora do filme, dirigida por Jean Constantin, remete à nostalgia. Juntamente com a fotografia noir de Henri Decaë e a direção de arte de Bernard Evein, consegue transmitir a angústia do garoto. O trabalho resulta em belas cenas que põe em contraste as belíssimas paisagens e as vielas e ruas poucas convidativas da cidade onde Antoine costumava perambular. Da metade para o final da trama, a tensão se intensifica, quando Antoine acaba discutindo em casa e foge, passando a cometer pequenos delitos. Ele termina pego, e a mãe, por sua vez, talvez a mais compreensiva com o garoto, o resgata e o leva novamente para casa e se desculpa com ele. Porém não demora muito ele volta para as ruas até ser enviado para um reformatório. Depois de fugir do reformatório vemos no último plano do longa a cena em que Antoine está sozinho numa praia deserta e sorrindo, o que reflete muito a angústia e solidão vivida por ele. O filme foi indicado ao Oscar como melhor roteiro e ganhou o prêmio de melhor direção no festival de Cannes, um feito invejado por muitos mas que só Truffaut em seu longa de estreia conseguiu realizar. Os incompreendidos é uma obra de arte atemporal indicada a todos amantes de um bom drama. Afinal, todos nós temos um pouco de Antoine Doinel.

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