Carta ao leitor: Aqueles dias
- Jornalismo
- 22 de jun. de 2020
- 2 min de leitura

...𝑬𝒓𝒂𝒎 𝒅𝒊𝒂𝒔 𝒄𝒐𝒏𝒇𝒖𝒔𝒐𝒔, 𝒏𝒖𝒃𝒍𝒂𝒅𝒐𝒔, 𝒓𝒆𝒑𝒍𝒆𝒕𝒐𝒔 𝒅𝒆 𝒊𝒏𝒄𝒆𝒓𝒕𝒆𝒛𝒂𝒔 𝒂𝒃𝒔𝒐𝒍𝒖𝒕𝒂𝒔.
Ninguém sabia o que era mais perigoso: se ir ao mercado, ficar parado, ligar a tevê ou continuar casado. Os valores que tantos lutavam para adquirir parecia simplesmente ir pelo ralo. Agora os motivos para tantas desgraças eram variados, e todos só queriam achar um culpado.
𝑬𝒓𝒂𝒎 𝒅𝒊𝒂𝒔 𝒇𝒓𝒊𝒐𝒔, 𝒔𝒆𝒎 𝒂𝒎𝒐𝒓, 𝒆 𝒐𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒍𝒖𝒕𝒂𝒗𝒂𝒎 𝒄𝒐𝒏𝒕𝒓𝒂 𝒂𝒑𝒆𝒏𝒂𝒔 𝒑𝒓𝒐𝒗𝒐𝒄𝒂𝒗𝒂𝒎 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒅𝒐𝒓.
Aqueles abraços apertados, perderam o valor. As pessoas haviam se esquecido do calor, que antes emanava do humor. Não havia mais risos, tudo o que sentiam era temor.
𝑬𝒓𝒂𝒎 𝒅𝒊𝒂𝒔 𝒅𝒆 𝒎𝒆𝒅𝒐, 𝒐𝒔 𝒅𝒊𝒂𝒔 𝒕𝒆𝒓𝒎𝒊𝒏𝒂𝒗𝒂𝒎 𝒄𝒆𝒅𝒐, 𝒆 𝒕𝒐𝒅𝒐𝒔 𝒕𝒊𝒏𝒉𝒂𝒎 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐𝒔 𝒔𝒆𝒈𝒓𝒆𝒅𝒐𝒔.
Pareciam estar todos embebedados pelo enredo que os cercava, suas mentes vagavam e não eram mais capazes de distinguir o certo e o errado. O falso e o real. O bem e o mal.
𝑬𝒓𝒂𝒎 𝒅𝒊𝒂𝒔, 𝒆 𝒅𝒊𝒂𝒔 𝒑𝒂𝒔𝒔𝒂𝒎, 𝒂𝒒𝒖𝒆𝒍𝒆𝒔 𝒕𝒂𝒎𝒃é𝒎 𝒑𝒂𝒔𝒔𝒂𝒓𝒊𝒂𝒎.
Eu pensava assim. Mas o que foi apresentado para todos, naqueles tempos, deixaria marcas profundas demais, também em mim.
Na manhã seguinte daqueles dias, as pessoas precisariam seguir em frente. Eu sonhava com esse dia. Desejava que quando esse dia chegasse, fosse acompanhado pelo calor. Do sol. Da presença. Da esperança. Da confiança. Da coragem. Da fé. Essa que muitos abandonaram.
𝑬𝒖 𝒈𝒐𝒔𝒕𝒂𝒓𝒊𝒂 𝒒𝒖𝒆 𝒂𝒔 𝒑𝒆𝒔𝒔𝒐𝒂𝒔 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒆𝒈𝒖𝒊𝒔𝒔𝒆𝒎 𝒆𝒏𝒙𝒆𝒓𝒈𝒂𝒓 𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒖 𝒗𝒊𝒓𝒂 𝒏𝒂𝒒𝒖𝒆𝒍𝒆𝒔 𝒅𝒊𝒂𝒔.
Sabia que se elas tivessem a chance disso, teriam lidado melhor com o que havia ao seu redor.
Porém, eu costumo dizer que, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, frase essa que li em algum lugar, certa vez…e bem, depois disso eu nunca mais pude questionar os sentimentos de alguém.
Mas eu questiono muito os meus. Os meus sentimentos naqueles dias eram carregados de espera. Pois sabia que os dias terminariam. Todas as vezes que eu sentia o desespero na voz familiar, meus olhos pareciam chamas, prestes a chorar. Eu queria curar, mas só podia aguardar essa dor passar.
Aqueles dias ficariam marcados na minha memória durante toda a minha mísera existência, e ainda mais naqueles que ao sofrerem a perda viram seu coração dilacerar. Mas escrevo, pois não posso deixar de falar: essa fase vai passar, e o que nos espera é muito melhor, não dá nem pra imaginar.
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