Os algoritmos das redes sociais em favor das Fakes News
- Jornalismo
- 25 de nov. de 2019
- 4 min de leitura
Por Eduarda Prawucki
Famosas, porém não deveriam ser. Há quem diga que o nome “Fake News” está errado, pois se é Fake (Falso) não é News (Notícia). Vivemos uma transição sem fim e sem freio. Do ponto de vista tecnológico evoluímos, mas quando passamos a confiar mais no que é repassado pelo Whatsapp e menos no que é publicado em grandes veículos de comunicação essa evolução merece ser questionada.
Uma pesquisa realizada pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), analisou as rotinas de consumo de notícias em aplicativos de mensagens. Seu resultado apontou que um entre quatro usuários consome notícias pelo WhatsApp regularmente.
Todos os dias aproximadamente 1,45 bilhão de pessoas estão conectadas no Facebook. A rede social vende informações cadastradas pelos usuários para o mercado atingir mais assertivamente seus clientes. Mas claro, como quase tudo na vida, o Facebook possui seu lado ruim. Qualquer um pode comprar seus dados e patrocinar postagens nas redes sociais. O que isso tem haver com as Fakes News? Segundo o especialista em novas mídias Moisés Cardoso, no período das eleições 2018, por exemplo, as notícias falsas aumentam por conta do dinheiro injetado nas campanhas. “Teve dinheiro injetado de uma lado para fazer as fake news girarem, e também bancando suas produções em massa. E teve também a criação e distribuição orgânica do lado que era mais engajado. Foi um cenário híbrido com serviço pago, orgânico, robôs e militância engajada.”.
Além das próprias Fake News, os algoritmos das redes sociais, como facebook, twitter e instagram, ajudam a construir a chamada bolha social. Onde existe apenas uma verdade, a sua. “O algoritmo do Facebook favorece o afunilamento de olhar. Ele funciona da seguinte forma: pessoas que eu interajo tendem a aparecer no meu feed de notícias; pessoas que eu não entro em contato, não aparecem. As postagens de amigos e parentes têm maior prioridade do que as fanpages, como os veículos de comunicação que o usuário segue. Cada vez que compartilhamos algo depositamos uma chancela de credibilidade naquele assunto. Damos o aval de que aquilo tem relevância e leva a nossa aprovação. Com iscas digitais cada vez mais bem elaboradas, as fake news se camuflam entre verdades, ludibriam os usuários, que as repassam adiante, e a nova atualização do algoritmo do Facebook reforça essa dinâmica viciante”, explica o professor Moisés.
Boatos x Fake News
Nas eleições de 2018 no Brasil, o recurso das Fake News foi utilizado em peso para tentar manipular a opinião dos eleitores. Mas o jornalista e publicitário, Moisés, aponta há diferença entre Fake News e Boatos.
“Na maioria das vezes, a Fake News pode ser ligada a duas questões principais: política e/ou econômica. Desestabilizar um governo, manipular a percepção da população, influenciar em uma tomada de decisão, desviar a atenção, destacar algo pontual, e por aí vai. Ela está hospedada/ancorada em alguma plataforma digital, site ou blog, apresenta foto, vídeo ou áudio. Seu viés apelativo convoca o usuário a compartilhar a mensagem, dando sequência a viralização. Essa bola de neve que é iniciada, leva a segunda intenção, a econômica. Gera volume de acessos que rentabilizam em anúncios publicitários que se encontram dentro desses ambientes digitais. Essas iscas digitais, além de causarem um desserviço a comunicação, ainda remunera aqueles que as orquestram.”
Já os boatos, podem ser em forma de foto, áudio, vídeo ou texto, que recebemos no WhatsApp, por email ou foi postado por um usuário. “O Boato está solto. Você não sabe exatamente de onde veio, nem quando foi produzido. Na maioria das vezes vem com algum texto apelativo, inusitado e pede para que o material seja passado adiante”, completa Moisés.
Uma das teorias que ajudam a explicar o porquê da preferência das pessoas em continuar se informando através das redes sociais, mesmo com os grandes veículos de comunicação migrando para a Web, é o viés de confirmação. O termo foi criado na década de 1970 pela dupla de psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky.
“O viés de confirmação é a tendência natural que as pessoas têm de lembrar, interpretar ou pesquisar informações para confirmar crenças ou hipóteses iniciais. Esta tendência, que todos os seres humanos carregam no córtex cerebral, está por trás não apenas da produção de falsidades, mas também do seu compartilhamento e viralização nas redes sociais. O viés de confirmação funciona como uma espécie de gatilho, que nos leva a defender nossas preferências e a rejeitar conteúdos que despertam a nossa antipatia – sem avaliar o aspecto factual do conteúdo em questão”, afirma Moisés.
Na opinião do especialista, nas eleições 2018, as fake news viraram um negócio.Tanto de quem recebe para produzir o conteúdo que é feito por um profissional da comunicação, como pelos anúncios que circulam nas plataformas digitais em que eles estão hospedados.
Educação Virtual
O nível de escolaridade pode influenciar a vulnerabilidade para ‘cair’ em fake news. “É preciso uma mudança de comportamento dos usuários, com ações voltadas para a educação virtual. Precisamos focar em uma educação voltada aos meios digitais para todas as faixas etárias. É preciso entender os pontos problemáticos entre os usuários, em que grande parte deles são “migrantes digitais”, pessoas que nasceram em um mundo analógico e viram ele se digitalizar. Quem nasceu vivendo essa realidade também não passa ileso. Em ambos os grupos somente a constante educação dos usuários é que pode amenizar a disseminação de Fake News. Ela precisa ser contínua porque as metodologias de quem cria elas também vão sendo aperfeiçoadas, é como um aplicativo que precisa de atualizações de tempos em tempos para poder funcionar bem”, explica o professor Moisés.
Como não ser vítimas das Fake News Nos cabe ficar atentos e não acreditar em tudo que é postado, inclusive pelas pessoas próximas. Antes de compartilhar um conteúdo nas redes sociais, primeiro é preciso verificar se a origem da notícia tem credibilidade, observar se a data da informação é atual e avaliar se é realmente importante compartilhar.
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